O sabiá na gaiola - Fábula de
Monteiro Lobato
Lamentava-se na gaiola um velho sabiá.
- Que triste destino o meu, nesta prisão toda a
vida... E que saudades dos bons tempos de outrora, quando minha vida era um
contínuo pular de galho em galho em procura das laranjas mais belas...
Madrugador, quem primeiro saudava a luz da manhã era eu, como era eu o último a
despedir-me do sol à tardinha, cantava e era feliz...
Um dia, traiçoeiro visgo me ligou os pés. Esvoacei,
debati-me em vão e vim acabar nesta gaiola horrível, onde saudoso choro o tempo
da liberdade. Que triste destino o meu! Haverá no mundo maior desgraça?
Nisto abre-se a porta da sala e entra o caçador, de
espingarda ao ombro e uma fieira de pássaros na mão.
Ante o espetáculo das míseras avezinhas
estraçalhadas a tiro, gotejantes de sangue, algumas ainda em agonia, o sabiá
estremeceu e horripilado verificou não ser dos mais infelizes, pois que vivia e
ainda não perder a esperança de recobrar a liberdade de outrora.
Refletiu sobre o caso e murmurou consigo:
- Antes penar que morrer.
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