O Corvo e o Pavão - Fábula de
Monteiro Lobato
O pavão, de roda aberta em forma de leque, dizia
com desprezo ao corvo:
▬ Repare como sou belo! Que cauda, hein? Que cores,
que maravilhosa plumagem! Sou das aves a mais formosa, a mais perfeita, não?
▬ Não há dúvida que você é um belo bicho -- disse o
corvo. Mas, perfeito? Alto lá!
▬ Quem quer criticar-me! Um bicho preto, capenga,
desengraçado e, além disso, ave de mau agouro... Que falha você vê em mim, ó
tição de penas?
O corvo respondeu:
▬ Noto que para abater o orgulho dos pavões a
natureza lhes deu um par de patas que, faça-me o favor, envergonharia até a um pobre
diabo como eu...
O pavão, que nunca tinha reparado nos próprios pés,
abaixou-se e contemplou-os longamente. E, desapontado, foi andando o seu
caminho sem replicar coisa nenhuma.
Tinha razão o corvo: *não há beleza sem senão*.
(Monteiro Lobato. Fábulas. São Paulo, Brasiliense,
1994. p. 30.)
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