Como os pavões andassem em época de muda, uma
gralha teve a idéia de aproveitar as penas caídas.
– Enfeito-me com estas penas e viro pavão!
Disse e fez. Ornamentou-se com as lindas penas de
olhos azuis e saiu pavoneando por ali a fora, rumo ao terreiro das gralhas, na
certeza de produzir um maravilhoso efeito.
Mas o trunfo lhe saiu às avessas. As gralhas
perceberam o embuste, riram-se dela e enxotaram-na à força de bicadas.
Corrida assim dali, dirigiu-se ao terreiro dos
pavões pensando lá consigo:
– Fui tola. Desde que tenho penas de pavão, pavão
sou e só entre pavões poderei viver.
Mau cálculo. No terreiro dos pavões coisa igual lhe
aconteceu. Os pavões de verdade reconheceram o pavão de mentira e também a
correram de lá sem dó.
E a pobre tola, bicada e esfolada, ficou sozinha no
mundo. Deixou de ser gralha e não chegou a ser pavão, conseguindo apenas o ódio
de umas e o desprezo de outros.
Amigos: lé com lé, cré com cré.
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