O cavalo e o burro
Monteiro Lobato
O cavalo e o burro seguiam juntos para a
cidade. O cavalo contente da vida, folgando com uma carga de quatro
arrobas apenas, e o burro — coitado! gemendo sob o peso de oito. Em
certo ponto, o burro parou e disse:
– Não posso mais! Esta carga excede às minhas
forças e o remédio é repartirmos o peso irmãmente, seis arrobas para cada um.
O cavalo deu um pinote e relichou uma gargalhada.
– Ingênuo! Quer então que eu arque com seis
arrobas quando posso tão bem continuar com as quatro? Tenho cara de tolo?
O burro gemeu:
– Egoísta, Lembre-se que se eu morrer você
terá que seguir com a carga de quatro arrobas e mais a minha.
O cavalo pilheriou de novo e a coisa ficou por
isso. Logo adiante, porém, o burro tropica, vem ao chão e rebenta.
Chegam os tropeiros, maldizem a sorte e sem demora
arrumam com as oito arrobas do burro sobre as quatro do cavalo egoísta. E
como o cavalo refuga, dão-lhe de chicote em cima, sem dó nem piedade.
– Bem feito! exclamou o papagaio. Quem
mandou ser mais burro que o pobre burro e não compreender que o verdadeiro
egoísmo era aliviá-lo da carga em excesso? Tome! Gema dobrado
agora…
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