Você já ouviu falar em Monteiro Lobato?
Ele foi um famoso escritor de histórias infantis, criador de personagens famosos como a Emília, o Visconde de Sabugosa, além de todos os outros personagens do Sítio do Picapau Amarelo. Ele criou também um personagem que vive no campo, na zona rural. Vamos conhecer um pouquinho quem foi o Jeca Tatu.
JECA TATUZINHO
DE MONTEIRO LOBATO
Adaptação de Maria R. do Amaral
Jeca morava no sitio. Era
solteirão, por isso vivia só. Não totalmente, porque tinha um cão
preto, sempre por perto. O apelido de Jeca Tatu advém da maneira
como vivia. Daí o TATU que é um animal que vive em buracos na
terra. Morava em uma tapera cheia de buracos, onde a lua faz clarão.
Também não consertava nada. No quintal, só se viam um franguinho
magricela, um patinho sem mãe e uma leitoazinha que corria por todos
os lados em busca de alguma comida.
Jeca, de cócoras, no quintal,
tomava sol. Não calçava, pois não tinha sapatos. Um chapéu de
palhas, camisa xadrez e uma calça surrada.
Plantar? Qual o que! Tinha muita
preguiça. Meia dúzia de covas
para o plantio do milho e já
entregava a rapadura. Buscar lenha no mato, era outra dificuldade.
Vinha sempre com uns poucos gravetos nas costas.
O melhor era descansar.
Deitava-se embaixo de uma árvore e ferrava no sono. O cãozinho
aderira à vida e ao caráter do dono.
Estirado nas pernas do Jeca
dormia a sono solto.
Ah! Mas a marvada da pinga,
estava sempre por perto. Era o que atrapalhava e muito.
Um dia, passou por ali um médico
que, ao ver o Jeca, naquele estado de penúria, e amarelo, de tanta
debilidade física, compadeceu-se dele e pediu para que mostrasse a
língua. Logo em seguida disse: Você está com a língua muito suja.
Com certeza, está com estômago e intestinos em mau estado. Venha à
cidade em meu consultório, que vou providenciar uns exames e ver
como está sua saúde.
Jeca foi ao consultório do
doutor e depois de ter feito alguns exames, o médico concluiu que
ele precisava fazer um bom tratamento, alimentar-se melhor e deixar a
cachaça.
Além do mais, você precisava
andar calçado pois, pela sola dos pés, é que passam os micróbios
que danificam a sua saúde. Mostrou, através de uma lente de
aumento, a ação dos micróbios. Jeca ficou abismado com o que ficou
sabendo. Até o cãozinho preto do caipira estava de testemunha do
que o doutor falava.
Na volta para casa, Jeca passou
na farmácia e já mandou aviar a receita. Eram algumas vitaminas e
Biotônico Fontoura um fortificante muito bom. Comprou também
algumas frutas e legumes, ovos e leite, passando a se tratar melhor.
E não deu outra. O nosso Jeca
começou a ficar forte e, passando a mão, em um machado, cortava
lenha em abundância. Depois, quando ia ao mato buscar lenha, trazia
um belo feixe na cabeça. Começou a tomar gosto pela coisa e a sua
plantação de milho, feijão e mandioca começou a produzir.
Saía para caçar e não tinha
medo de nada. Ouvia a onça rugir e enfrentava a danada com socos e
queda de braços. As feras corriam logo, embrenhavam-se pelo mato e
Jeca ficava vitorioso no confronto. Sua fama alastrou-se na
redondeza.
Ficou gordo e bonitão. Arrumou
até casamento.
Fez uma casa maior e bem feita,
com varanda e tudo mais.
Andava de chapelão e botas.
Teve filhos que ele também não deixava que andassem descalços.
Pois sabia agora quanto vale a saúde.
Tão compenetrado era, com
respeito a isso, que até seus porcos e galinhas, tinham botinas.
Criava porcos em pocilgas bem
construídas e, duas vezes por ano, levava-os em seu caminhão para
vendê-los no mercado da cidade. Comprou mais terras e formou uma
pequena fazenda a quem deu o nome de Fazenda Feliz.
A sua vida, ficou totalmente
modificada e para muito melhor. Tinha telefone e uma TV que via à
noite, sentado em uma cadeira de balanço. A sua casa era bem
arrumada, com um relógio que batia as horas. Enfim era hoje um homem
de negócios. Aos domingos, ia à cidade, cavalgando um belo cavalo
alazão [...].
Conclusão: O Jeca de outros
tempos, agora transformado em seu estado de saúde e progresso
financeiro, era mesmo um vencedor na vida. Graças à modificação
de sua conduta em relação à higiene, à saúde e ao trabalho.
Glossário: entregar a rapadura – deixava de trabalhar;
tapera – casa de campo, rancho, qualquer habitação abandonada;
cócoras – posição agachada, sentado sobre os calcanhares;
covas – buracos feitos no solo para plantar uma muda ou para
colocação de sementes;
rapadura - doce feito à base de cana-de-açúcar.
pocilgas – curral de porcos
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